A identidade visual do Curso de Relações Internacionais da FURG foi elaborada pelos professores Daniel Lena Marchiori Neto e Luciano Vaz Ferreira a partir de sugestões e diálogos com os demais colegas e alunos da graduação. Foi submetida para apreciação pelo Núcleo Docente Estruturante (NDE) e aprovada por unanimidade conforme a ata 01/2017. Os professores idealizadores da proposta cederam gratuitamente seu uso para qualquer finalidade, desde que respeitado o projeto original. Além disto, esta identidade deverá ser adotada em todos os documentos oficiais do Curso de Relações Internacionais. 

A proposta artística teve o intuito de demonstrar a unidade de seu corpo docente, sinalizando, ao mesmo tempo, uma inspiração para as atividades de pesquisa e extensão realizadas na universidade. Um projeto desta envergadura não é algo simples de ser concebido, visto que as pessoas envolvidas possuem trajetórias de vida e visões de mundo muito distintas entre si. Todavia, há um aspecto bastante sensível que, de alguma maneira, vincula toda a equipe, constituindo o nosso local de expressão. Trata-se da missão de construir um curso de excelência em um campus avançado no extremo sul do Brasil.

A localização geográfica é, portanto, o ponto de partida para definir quem somos enquanto grupo. O Curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande está sediado na cidade de Santa Vitória do Palmar (SVP), na fronteira com o Uruguai, distante 190 km da cidade de Rio Grande.  É o município mais meridional do Brasil, localizado na região dos chamados Campos Neutrais. Esta era a denominação dada pelo Tratado de Santo Ildefonso (1777) a uma faixa de terra desabitada no atual Estado do Rio Grande do Sul, cuja posse não poderia ser reclamada por nenhuma das partes envolvidas no conflito, Portugal e Espanha. A faixa se estendia dos banhados do Taim até o Arroio Chuí, onde hoje estão os municípios de Santa Vitória do Palmar e Chuí. Os Campos Neutrais foram retratados na literatura e na música como sendo uma região cosmopolita, misteriosa e fantástica, repleta de histórias de sereias, piratas e naufrágios. 

Não se pode olvidar também o fato de que estar em uma região fronteiriça historicamente conflituosa, bem como o isolamento geográfico do resto do país, impôs sérias restrições ao desenvolvimento social e econômico. A cidade, infelizmente, ostenta um dos piores índices de desigualdade e pobreza do RS. Nesse sentido, a criação do campus avançado da FURG indica um compromisso com o desenvolvimento do país, levando ensino superior público, gratuito e de qualidade a uma localidade tradicionalmente esquecida pelo poder público.

Dentro deste cenário, decorrem duas visões compreensivas de mundo que são tomadas como referenciais. A primeira delas é a de que estamos no Sul. Não apenas em um sentido geográfico, mas especialmente político. Estar no Sul significa enfrentar um contexto marcado por um profundo desequilíbrio nas relações sociais, sendo muitas vezes identificados com a periferia do mundo, do Brasil e da universidade. A segunda afirmação é a de que estamos nos Campos Neutrais, uma região de fronteira marcada pela proeminência das relações internacionais. O passado é uma herança a ser preservada e valorizada.

Nossa concepção identitária, portanto, parte do sul. Mas não com um olhar subalterno ou mesmo hierarquizado. “Não estamos à margem de um centro, mas no centro de uma outra história”1. A nossa história. A história de um grupo de professores e alunos oriundos dos mais diversos lugares que, mesmo distantes de seus familiares e amigos, apostam e acreditam neste projeto. Tendo orgulho do nosso local e da nossa vocação, buscamos contribuir com o ensino através de uma formação intelectual sólida, plural e crítica. Nossa história começa no sul, mas vislumbra o mundo em sua totalidade.

O projeto elaborado é fortemente inspirado no ensaio Estética do Frio, do escritor e compositor gaúcho Vitor Ramil. Neste trabalho, Ramil subverte a ideia de que determinadas regiões do Brasil devam sentir-se marginalizadas em face da hegemonia do centro do país em vários aspectos da vida nacional. No caso do extremo sul gaúcho, considera uma região privilegiada por sua história e situação geográfica únicas, sendo a confluência de três culturas, “encontro de frialdade e tropicalidade”2.

No mesmo espírito do manifesto de Ramil, os irmãos Daniel e Jorge Drexler cunharam a expressão templadismo para demarcar o movimento cultural emergente na região do Prata. O templadismo ressalta as características do território platino, seu clima temperado de estações bem definidas, as imagens das vastas planícies e as tradições similares entre os países. Assim, busca um equilíbrio entre a afirmação da identidade regional e as influências extrarregionais.

Outra fonte de inspiração é o Mapa Invertido da América Latina, obra marcante do artista uruguaio Joaquín Torres García. Neste desenho, o autor não utiliza a orientação cartográfica convencional, invertendo o posicionamento do Sul para o topo da imagem. Como ele bem afirmou oportunamente, “nosso norte é o Sul. Não deve haver norte, para nós, senão por oposição ao nosso Sul. Por isso agora colocamos o mapa ao contrário, e então já temos uma justa ideia de nossa posição, e não como querem no resto do mundo. A ponta da América, desde já, prolongando-se, aponta insistentemente para o Sul, nosso norte”3.

O design do elemento figurativo de projeto busca destacar as imagens do Sul, dos Campos Neutrais, da Estética do Frio, do Templadismo e da América Invertida. Nesse sentido, o primeiro ponto a ser destacado é a escolha de cor azul para todo o desenho. Trata-se, evidentemente, de uma alusão metafórica à estética do frio, visto que o azul é um das principais cores frias da aquarela. Por outro lado, simboliza também a abundância das águas que banham a região dos Campos Neutrais: o Oceano Atlântico e as lagoas Mirim e Mangueira.

O desenho principal consiste em uma esfera elíptica onde, ao centro, está uma representação do globo terrestre propositalmente invertido, dando destaque à América Latina. Na parte superior, observa-se a letra S, simbolizando o ponto cardeal sul, no local onde convencionalmente deveria estar o ponto Norte. Na parte inferior, há os dizeres Australis nostrum borealis est, cuja tradução literal do latim significa O Sul é nosso Norte. Estas imagens sintetizam as ideias de Torres García, ressaltando a posição do Curso de pensar e discutir a ciência das relações internacionais em uma perspectiva autêntica, crítica e plural.

Na parte esquerda, observa-se a inscrição MMXV, em referência ao ano de 2015, quando se iniciaram as atividades do Curso de Relações Internacionais. Na parte direita, a sigla FURG correspondente à Universidade Federal do Rio Grande.

A referência aos Campos Neutrais aparece em dois momentos no desenho. Em primeiro lugar, as estrelas localizadas na parte superior esquerda e direita simbolizam o Brasil e o Uruguai. Esta região fronteiriça, outrora zona de disputa entre o império português e espanhol, hoje representa a união de dois povos irmãos. Ainda que separados politicamente, mantêm-se unidos pela mesma identidade, cultura e destino.

Na parte superior, observam-se dois símbolos em formato de ondas em torno da letra S. Trata-se de uma homenagem às praias que banham o município de Santa Vitória do Palmar: Hermenegildo e Barra do Chuí. Há também um aspecto figurativo por trás da representação do mar.

Tanto Ramil quanto os irmãos Drexler ressaltam as imagens das vastas planícies do pampa e de como elas são significativas para a estética platina. Ao se deparar com a linha quase infinita de um horizonte sem relevos, onde o pampa se transforma em um mar, o olhar frio encontra a reflexão, o rigor e a profundidade.

É desta forma que imaginamos o Curso de Relações Internacionais da FURG. Um lugar onde o conhecimento é almejado em sua plenitude, sem reserva ou pressuposição. Nosso olhar templadista busca enxergar além das barreiras, mirar o horizonte e contemplar o infinito.

 

Daniel Lena Marchiori Neto e Luciano Vaz Ferreira

 


1 RAMIL, Vitor. A estética do frio. Pelotas: Satolep Livros, 2009, p. 28.

2  Ibid., p. 28.

3 GARCÍA, JOAQUÍN TORRES. Universalismo Constructivo. Madrid: Alianza Editorial, 1944, p. 193. 


 

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