ATUAL CONJUNTURA DA ECONOMIA-MUNDO CAPITALISTA E MUDANÇA NO EQUILÍBRIO DE PODER ENTRE ORIENTE E OCIDENTE

05 e 06 de dezembro de 2022
Florianópolis | SC | Brasil
Formato Hibrido

CHAMADA DE TRABALHOS

A revolta contra o Ocidente na Ásia Meridional e no Leste da Ásia foi uma realidade histórica de meados do século XIX até meados do século XX. Desfeito o desafio militar japonês ao final da Segunda Guerra Mundial, um novo desafio surgiu e colocou frente à frente os Estados Unidos (enquanto nação hegemônica em ascensão) e a China (revigorada pela adoção de uma versão achinesada do marxismo-leninismo e pela criação de Estado moderno) em luta pela centralidade na Ásia oriental. O posterior renascimento econômico desta região, acelerado desde o último quarto do século passado, coloca-a na condição de centro mais dinâmico dos processos de acumulação de capital em escala mundial, aponta para uma possível recentralização da economia global no Oriente, nesse século XXI, o que é um claro sinal da transferência de poder do Ocidente para o Oriente e do iminente desfecho do longo processo de intromissão e dominação ocidental na Ásia. Ainda não se sabe até onde poderá chegar a atual mudança de equilíbrio de poder entre as civilizações ocidentais e não ocidentais.

De fato, pode-se afirmar que surgimento da China como epicentro dos processos de acumulação de capital e poder da Ásia oriental e sua proeminência crescente no sistema interestatal e a reação dos EUA ao seu declínio hegemônico, buscando a contenção da ascensão chinesa, são os dois principais fatos que configuram a política, a economia e a sociedade mundiais. Estão dadas as possibilidades tanto de um período de caos sistêmico, de destruição da economia-mundo capitalista como a conhecemos, como também uma transição hegemônica. O que sabemos pela experiência histórica é que desde final dos anos 1970 está em curso o declínio hegemônico dos EUA. A crise da hegemonia norte-americana entrou em uma nova etapa no século XXI, precipitada pelo ataque de 11.09.2001 e pela invasão estadunidense ao Iraque em 2003, o que colocou aquele país na condição exclusiva de dominador (e, portanto, carente de liderança intelectual e moral) no sistema interestatal. Os EUA continuam a ser a potência militar predominante no mundo e sua influência foi, segue e seguirá considerável no novo “equilíbrio do terror”. A transição da hegemonia holandesa para a britânica durou cerca de 150 anos, enquanto a transição da hegemonia britânica para a norte-americana durou menos de 75 anos. Já se passou meio século da atual transição, e parece pouco provável que presenciaremos uma aceleração do tempo histórico em matéria de transições hegemônicas. Daí sermos chamados a acompanhar e analisar os processos de intensificação da concorrência interestatal e interempresarial, da escalada dos conflitos sociais e do surgimento intersticial de novas configurações de poder. Episódios mais recentes da guerra entre a Rússia e Ucrânia/Otan e a provocação americana aos chineses não nos trazem bom augúrio.

Há uma perda tanto relativa quanto absoluta na capacidade de os Estados Unidos manterem a centralidade no interior da economia política global e a China os vem substituindo como principal motor da expansão comercial e econômica não só na região da Ásia oriental como em outras regiões do mundo. Esse declínio relativo dos Estados Unidos e a ascensão do Leste Asiático parece indicar que estamos num período de transição hegemônica nos moldes delineados por Arrighi ou se trataria da crise terminal da economia-mundo capitalista como defendido por Wallerstein? Diante desses dois cenários, poderá a China oferecer aos países periféricos e semiperiféricos um outro caminho de desenvolvimento, por exemplo, uma economia de mercado global não capitalista? Ou replicará a mesma lógica produtiva e destrutiva das hegemonias anteriores, conduzindo a economia-mundo capitalista para outro ciclo sistêmico de acumulação, desta vez centrado no oriente? A adoção da receita neoliberal provocou uma série de desastres econômicos na África subsaariana, na América Latina e nos países da antiga União Soviética. O caso da América Latina, e do Brasil em particular, ilustra bem a decepção com as contrarreformas neoliberais: baixo crescimento econômico, exclusão social, miséria, pobreza, concentração de renda, precarização das relações de trabalho, aumento do desemprego, expansão da violência, instabilidade política, etc.

Duas questões são fundamentais para monitorarmos a situação dos países periféricos e semiperiféricos diante da devastação social e ecológica provocada pelo desenvolvimento do capitalismo histórico. A primeira é saber se esses países terão condições de destinar eventuais superávits de seus balanços de pagamentos para melhorar as condições estruturais de desigualdade, ou se os colocarão à disposição dos órgãos controlados pelos polos dominantes, mantendo assim a espoliação que caracteriza o capitalismo histórico. A segunda é saber se os países periféricos/semiperiféricos em geral, e a China e Índia em particular, serão ou não capazes de abrir um caminho distinto de desenvolvimento, menos desigual e pautado por princípios ecológicos. Não está descartada a formação de um novo Bandung, que tem o potencial de usar o mercado global como instrumento de equalização das relações de poder entre centro, semiperiferia e periferia, algo que o velho Bandung não fez.

Nesta décima sexta edição do Colóquio Internacional da Economia Política dos Sistemas-Mundo convidamos todos os pesquisadores, estudantes e demais interessados a enviar trabalhos sobre a atual conjuntura da economia-mundo capitalista, e as dimensões aqui brevemente apresentadas. Por fim, também serão bem-vindas contribuições a respeito da própria Economia Política dos Sistemas-Mundo, seja criticando-a ou atualizando-a.

Cronograma
06/11: Envio do Trabalho Completo
14/11: Divulgação dos Trabalhos Aceitos
21/11: Confirmação de Presença
25/11: Divulgação da programação
05 e 06/12: Realização do Evento (formato híbrido)

Normas para submissão de artigos
Especificação da formatação: arquivo “word for windows” ou PDF; fonte Times New Roman 12; espaçamento 1,5; máximo de 20 páginas.
Endereço eletrônico para envio: Esta imagem contém um endereço de e-mail. É uma imagem de modo que spam não pode colher.

Comissão organizadora
Fabio Padua dos Santos (CNM/UFSC)
Pedro Antonio Vieira (PPGRI/UFSC)
Helton Ricardo Ouriques (PPGRI/UFSC)
Brenda Caroline Geraldo (PPGRI/UFSC)
Gustavo Gatto Gomes (PPGRI/UFSC)
Paola Huwe de Paoli (PPGRI/UFSC)

Comitê científico
Antonio Brussi (UnB)
Bruno Hendler (UFSM)
Carlos Eduardo Martins (UFRJ)

Realização
Grupos de Pesquisa em Economia Política dos Sistemas-Mundo.

Apoio
UFSC, Centro Sócio-Econômico, Departamento de Economia e Relações Internacionais e Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais.